Por Andre França Esteves
Assim
como em todas as noites, Nox se levantou antes de seus companheiros
enquanto a lua ainda estava bastante alta no céu. Seu anel era um
item bastante útil para um guerreiro como ele, que deve manter
guarda todos os dias, mas issvo o retirava boas longas noites de
sono. Não que ele tivesse bons sonhos para sonhar de qualquer
maneira.
De
maneira robótica e silenciosa, ele se afastou um pouco do pequeno
acampamento onde seus companheiros ainda dormiam e ajoelhou-se em
cima de uma colina próxima de onde ele podia ver uma extensa
planície em frente, serpenteada por uma longa estrada de pedra feita
pelos minotauros. No céu, viam-se centenas de estrelas que
iluminavam a pele negra do drow e realçavam seus olhos prateados.
Seguindo
seu ritual noturno, Nox enfileirou suas duas espadas em frente aos
joelhos e fechou os olhos enquanto aguçava os ouvidos élficos.
Neste momento, pareceu a si que todo o mundo ganhava vida. Deixando
de lado o limitado sentido da visão e se focando na audição,
percebeu coelhos passeando pela floresta, minhocas cavando no
interior da terra, pássaros voando acima de sua cabeça e até mesmo
o som das árvores conversando entre si através do farfalhar de seus
galhos.
“Tudo
aqui vive”, pensou Nox, “Tudo menos eu.”
Sim,
ele não vivia. Mesmo com sua audição extremamente sensível, Nox
não conseguia ouvir a vida dentro de si. Era como se seu coração
tivesse parado, o sangue engrossado em suas veias e cada uma das
juntas estivesse tão envelhecida a ponto de não conseguir mais
movimentar um único dedo. A vida tinha deixado ele... mas não
estava tão longe.
Com
pesar, o elfo pegou a espada de lâmina vermelha à sua frente e
olhou seu reflexo no metal. Em contraste com seu rosto apático e
indiferente, ele via vida na espada, como se ela pulsasse sangue
dentro do metal. Era a jaula de sua própria vida e ao mesmo tempo
aquilo que o protegia da morte nos momentos de maior necessidade. Seu
milagre, mas principalmente a sua tragédia.
Atormentado
por sua sina, Nox encontrou a própria testa contra o metal da espada
e relembrou-se de sua vida.
“As
coisas não costumavam ser assim... Não era para ser assim!” –
Enraivecido, Nox socou a terra e encostou a cabeça na grama –
“Quando eu deixei Toril e vim para Arton, eu estava cheio de vida.
Ambicioso. Pronto para matar os mais diversos monstros, viver todas
as aventuras que o mais épico dos aventureiros deve viver. Era muito
mais fraco do que sou agora, é verdade, mas também muito mais
preenchido do que sou hoje. Sim... Essa é a palavra. Preenchido.
Agora... agora sou só uma casca. Tormenta, Sszzaas, Arton,
multiverso ou não... Não me faz mais diferença.”
Nox
passou bastante tempo ali, deitado na grama e remoendo a falta de
justificativa de sua própria existência, lembrando-se de seu tempo
como aventureiro e até mesmo sentindo saudade de quando ainda era
apenas outro drow nas cavernas subterrâneas, quando não era apenas
uma mão segurando uma espada. Seu sofrimento durou muito, mas
eventualmente levantou a cabeça, secou os chorosos olhos e se
levantou. O Sol já começava a nascer.
Quando
se levantou, Nox percebeu que já não era mais o único acordado,
nem provavelmente nunca foi. Existia outro membro do grupo que nunca
dormia, que sempre mantinha seus olhos abertos e vigiantes. Assim
como Nox, ele também tinha um pacto com o deus da vingança.
"Por
que você não me deixou ser comido pelas cobras?” – Disse o elfo
negro para o amontoado de cobras ao seu lado enquanto recolhia as
espadas e andava até o acampamento, para acordar o resto do grupo.
Ele se arrependeu da pergunta logo no momento em que a fez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário